Reflexões sobre a perda da verdadeira arte de contar histórias
Lembro-me
bem da infância. Quase todos os domingos, minha mãe me levava para visitar meus
avós — muitas vezes contra a minha vontade. Eles eram pessoas simples, gente da
roça, como costumávamos dizer.
Minha avó
Romana não sabia ler; apenas desenhava o próprio nome com esforço e orgulho. Já
meu avô João dominava as letras e gostava de contar histórias. O ponto alto
daquelas visitas eram justamente esses momentos: reuníamo-nos na pequena
cozinha, e eles começavam os famosos “causos” — narrativas de fantasmas que
vagavam pelas estradas, criaturas estranhas avistadas nas noites de lua e,
claro, as lembranças animadas dos bailes na sede da fazenda.
Havia
vezes em que voltava para casa às gargalhadas, revivendo cada detalhe
divertido. Outras, no entanto, passava a noite em claro, com os olhos
arregalados de medo. O curioso é que, na sua simplicidade, meus avós — talvez
sem sequer perceber — utilizavam os quatro pilares fundamentais que sustentam
qualquer boa narrativa.
Mas,
voltando à nossa realidade, uma pergunta insiste em ecoar: o que está
acontecendo?
De mangás
a animes, de filmes a contos e romances… o que mais se percebe hoje é a
ausência de histórias bem construídas. E quando elas existem, muitas vezes
falham em algum aspecto essencial. São raras as obras que verdadeiramente nos
marcam.
Parece
que a indústria cultural se contenta em produzir conteúdo passageiro, feito
apenas para entreter — histórias que não deixam cicatriz emocional, que não
despertam saudade, nem o desejo de reviver a experiência.
Você se
lembra daquela obra que o tocou profundamente? Aquele livro ou filme que ficou
com você, que você quis revisitar inúmeras vezes? Pois é… isso tem se tornado
cada vez mais incomum.
Para
agravar, há ainda um grupo que se julga dono do “toque de Midas” e se sente no
direito de adulterar grandes clássicos — Tolkien, C. S. Lewis e tantos outros
—, acrescentando ideias estranhas ou removendo elementos essenciais sob o
pretexto de “atualizar” as histórias para torná-las contemporâneas.
Cometem,
assim, um erro fundamental: boas histórias são atemporais.
Não importa a época em que foram escritas — sua mensagem, seu tema, seus
questionamentos e reflexões atravessam gerações. São universais.
E então,
fica mais uma pergunta no ar:
Até quando essas pessoas, cegas pela própria vaidade criativa, continuarão a
estragar tudo o que tocam?
Ao leitor
As
histórias que nos marcam não são aquelas moldadas por modismos passageiros, mas
as que nascem da alma, das experiências humanas genuínas e da coragem de dizer
algo verdadeiro.
Talvez seja hora de voltarmos à simplicidade dos nossos avós — onde cada
palavra tinha peso, cada pausa tinha intenção e cada narrativa deixava uma
marca profunda.
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