Bem-vindo à Forja das Histórias

Aqui, entre brasas acesas e páginas que sussurram segredos, cada narrativa nasce como uma peça rara: moldada no calor da imaginação, temperada pelo tempo e polida com emoção. A Forja das Histórias é um refúgio para quem ama mundos ocultos, lendas reinventadas e personagens que parecem saltar das linhas para habitar o coração do leitor. Neste espaço, você encontrará contos originais, crônicas poéticas, reflexões sobre o ato de escrever e os bastidores de um universo literário em constante criação. A cada história, um novo portal se abre. A cada palavra, uma centelha de inspiração se acende. A forja está viva — e você é nosso convidado para atravessar o limiar.

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O Defunto da Ribanceira do Tião

Um causo de medo, bala e lama – por M.C. Garcia Há histórias que nascem do medo e outras da imaginação... mas algumas, como esta, nascem d...

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10 outubro 2025

O Defunto da Ribanceira do Tião

Um causo de medo, bala e lama – por M.C. Garcia

Há histórias que nascem do medo e outras da imaginação... mas algumas, como esta, nascem do medo misturado com a imaginação — e umas boas doses de valentia sem juízo.

Dizem que em toda fazenda do interior existe um lugar onde até o vento evita passar.
Naqueles tempos de moço, meu tio Zequinha jurava que esse lugar era a ribanceira do Tião, caminho obrigatório pra quem quisesse chegar à sede da fazenda Juquiá — e, naquela noite, também ao tão falado baile da sede.

O povo dizia que, à meia-noite em ponto, um caixão descia ribanceira abaixo, batendo, tombando, até parar bem no meio do caminho.
E o pior: o morto saía dele correndo atrás de quem passasse.
História de assombração, claro. Mas, como todo bom moço teimoso — e como ele mesmo dizia, “baixinho, é problema.” —, Zequinha resolveu ir assim mesmo.

Na ida, tudo tranquilo.
O céu estava enluarado,  e a sanfona já se ouvia de longe.
Mas durante o baile, o tempo virou.
Relampeava, trovão pra todo lado, e quando o relógio marcou 23h45, o riso virou receio.
— É agora que o defunto desce — cochichou alguém, empalidecendo.

E, claro, lá foram eles, voltando debaixo de chuva, as botas afundando na lama e o coração batendo mais forte que zabumba de sanfoneiro animado.

Foi quando ouviram.
Um estalo.
Depois, um arrasto.
E, por fim, o caixão despencando ribanceira abaixo, como se o próprio inferno tivesse resolvido brincar de rolimã.

A tampa se abriu.
O defunto levantou.
E o Zequinha, sem pensar duas vezes, sacou o revólver — porque, como ele dizia, “valente não foge, mas também não abraça defunto”.

— Quero ver se bala não espanta alma! — gritou.

E tome tiro!
Pá! Pá! Pá!
O defunto, assustado, tentou subir o barranco, mas o chão estava puro sabão. Subia um palmo, escorregava dois. Parecia dançar furdunço com o próprio barro.

De repente, surgiram duas almas penadas lá no alto, tentando puxar o coitado do defunto. Mas bastou Zequinha mirar de novo que os dois dispararam na corrida, sumindo no mato, deixando o “morto” patinando sozinho.

O tiroteio comeu solto.
O defunto, agora mais vivo do que nunca, deu um salto digno de atleta e sumiu ribanceira acima, deixando um rastro de lama, pólvora e vergonha alheia.

No dia seguinte, o povo ainda comentava o feito.
Uns diziam que era almas penadas.
Outros, que elas estavam correndo até agora..
Mas os mais malvados afirmavam que o susto que o defunto levou, “se não morreu do coração, é porque já tava morto”.

E, desde então, ninguém mais viu o caixão descendo a ribanceira...
Mas, toda vez que chove, o barro lá parece mexer sozinho.
E o povo diz que é o defunto — tentando não escorregar de novo.

Nota do autor

Histórias como essa me lembram que o medo e o riso caminham lado a lado — e que, às vezes, o melhor antídoto contra o sobrenatural é uma boa risada e uma coragem teimosa.

Só lembrando, Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e incidentes são produtos da imaginação do autor e são usados ​​ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas reais, vivas ou mortas, eventos ou locais é mera coincidência.

Vai que aconteceu mesmo! E melhor deixar o lembrete.

Na Forja das Histórias, cada conto é um golpe no ferro quente da memória — e este, certamente, foi forjado com pólvora, barro e gargalhada

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