Bem-vindo à Forja das Histórias

Aqui, entre brasas acesas e páginas que sussurram segredos, cada narrativa nasce como uma peça rara: moldada no calor da imaginação, temperada pelo tempo e polida com emoção. A Forja das Histórias é um refúgio para quem ama mundos ocultos, lendas reinventadas e personagens que parecem saltar das linhas para habitar o coração do leitor. Neste espaço, você encontrará contos originais, crônicas poéticas, reflexões sobre o ato de escrever e os bastidores de um universo literário em constante criação. A cada história, um novo portal se abre. A cada palavra, uma centelha de inspiração se acende. A forja está viva — e você é nosso convidado para atravessar o limiar.

15 outubro 2025

Meu primeiro conto publicado

 

Sinopse

Entre nuvens carregadas e construções impossíveis, um homem é lançado em uma experiência que desafia os limites do tempo, do espaço e da própria consciência. Dentro de um labirinto monumental, onde desejos moldam a realidade e inscrições enigmáticas sussurram verdades ancestrais, ele se vê diante de uma revelação aterradora: o contato direto com algo primordial, anterior ao próprio universo.

O que se oculta por trás da porta branca marcada com o nome do Caos? Seria a origem de tudo — ou apenas sua sombra?

A Sala conduz o leitor a uma jornada vertiginosa entre percepção e ilusão, onde cada passo é uma escolha irreversível, e cada enigma revela mais do que deveria.

Um mergulho perturbador na fronteira entre sonho, metafísica e horror cósmico — que deixará a inquietante pergunta ecoando: e se você também ouvir o chamado?




10 outubro 2025

O Defunto da Ribanceira do Tião

Um causo de medo, bala e lama – por M.C. Garcia

Há histórias que nascem do medo e outras da imaginação... mas algumas, como esta, nascem do medo misturado com a imaginação — e umas boas doses de valentia sem juízo.

Dizem que em toda fazenda do interior existe um lugar onde até o vento evita passar.
Naqueles tempos de moço, meu tio Zequinha jurava que esse lugar era a ribanceira do Tião, caminho obrigatório pra quem quisesse chegar à sede da fazenda Juquiá — e, naquela noite, também ao tão falado baile da sede.

O povo dizia que, à meia-noite em ponto, um caixão descia ribanceira abaixo, batendo, tombando, até parar bem no meio do caminho.
E o pior: o morto saía dele correndo atrás de quem passasse.
História de assombração, claro. Mas, como todo bom moço teimoso — e como ele mesmo dizia, “baixinho, é problema.” —, Zequinha resolveu ir assim mesmo.

Na ida, tudo tranquilo.
O céu estava enluarado,  e a sanfona já se ouvia de longe.
Mas durante o baile, o tempo virou.
Relampeava, trovão pra todo lado, e quando o relógio marcou 23h45, o riso virou receio.
— É agora que o defunto desce — cochichou alguém, empalidecendo.

E, claro, lá foram eles, voltando debaixo de chuva, as botas afundando na lama e o coração batendo mais forte que zabumba de sanfoneiro animado.

Foi quando ouviram.
Um estalo.
Depois, um arrasto.
E, por fim, o caixão despencando ribanceira abaixo, como se o próprio inferno tivesse resolvido brincar de rolimã.

A tampa se abriu.
O defunto levantou.
E o Zequinha, sem pensar duas vezes, sacou o revólver — porque, como ele dizia, “valente não foge, mas também não abraça defunto”.

— Quero ver se bala não espanta alma! — gritou.

E tome tiro!
Pá! Pá! Pá!
O defunto, assustado, tentou subir o barranco, mas o chão estava puro sabão. Subia um palmo, escorregava dois. Parecia dançar furdunço com o próprio barro.

De repente, surgiram duas almas penadas lá no alto, tentando puxar o coitado do defunto. Mas bastou Zequinha mirar de novo que os dois dispararam na corrida, sumindo no mato, deixando o “morto” patinando sozinho.

O tiroteio comeu solto.
O defunto, agora mais vivo do que nunca, deu um salto digno de atleta e sumiu ribanceira acima, deixando um rastro de lama, pólvora e vergonha alheia.

No dia seguinte, o povo ainda comentava o feito.
Uns diziam que era almas penadas.
Outros, que elas estavam correndo até agora..
Mas os mais malvados afirmavam que o susto que o defunto levou, “se não morreu do coração, é porque já tava morto”.

E, desde então, ninguém mais viu o caixão descendo a ribanceira...
Mas, toda vez que chove, o barro lá parece mexer sozinho.
E o povo diz que é o defunto — tentando não escorregar de novo.

Nota do autor

Histórias como essa me lembram que o medo e o riso caminham lado a lado — e que, às vezes, o melhor antídoto contra o sobrenatural é uma boa risada e uma coragem teimosa.

Só lembrando, Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e incidentes são produtos da imaginação do autor e são usados ​​ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas reais, vivas ou mortas, eventos ou locais é mera coincidência.

Vai que aconteceu mesmo! E melhor deixar o lembrete.

Na Forja das Histórias, cada conto é um golpe no ferro quente da memória — e este, certamente, foi forjado com pólvora, barro e gargalhada

Gostou do conto?

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09 outubro 2025

O que está acontecendo?

 Reflexões sobre a perda da verdadeira arte de contar histórias

Lembro-me bem da infância. Quase todos os domingos, minha mãe me levava para visitar meus avós — muitas vezes contra a minha vontade. Eles eram pessoas simples, gente da roça, como costumávamos dizer.

Minha avó Romana não sabia ler; apenas desenhava o próprio nome com esforço e orgulho. Já meu avô João dominava as letras e gostava de contar histórias. O ponto alto daquelas visitas eram justamente esses momentos: reuníamo-nos na pequena cozinha, e eles começavam os famosos “causos” — narrativas de fantasmas que vagavam pelas estradas, criaturas estranhas avistadas nas noites de lua e, claro, as lembranças animadas dos bailes na sede da fazenda.

Havia vezes em que voltava para casa às gargalhadas, revivendo cada detalhe divertido. Outras, no entanto, passava a noite em claro, com os olhos arregalados de medo. O curioso é que, na sua simplicidade, meus avós — talvez sem sequer perceber — utilizavam os quatro pilares fundamentais que sustentam qualquer boa narrativa.

Mas, voltando à nossa realidade, uma pergunta insiste em ecoar: o que está acontecendo?

De mangás a animes, de filmes a contos e romances… o que mais se percebe hoje é a ausência de histórias bem construídas. E quando elas existem, muitas vezes falham em algum aspecto essencial. São raras as obras que verdadeiramente nos marcam.

Parece que a indústria cultural se contenta em produzir conteúdo passageiro, feito apenas para entreter — histórias que não deixam cicatriz emocional, que não despertam saudade, nem o desejo de reviver a experiência.

Você se lembra daquela obra que o tocou profundamente? Aquele livro ou filme que ficou com você, que você quis revisitar inúmeras vezes? Pois é… isso tem se tornado cada vez mais incomum.

Para agravar, há ainda um grupo que se julga dono do “toque de Midas” e se sente no direito de adulterar grandes clássicos — Tolkien, C. S. Lewis e tantos outros —, acrescentando ideias estranhas ou removendo elementos essenciais sob o pretexto de “atualizar” as histórias para torná-las contemporâneas.

Cometem, assim, um erro fundamental: boas histórias são atemporais.
Não importa a época em que foram escritas — sua mensagem, seu tema, seus questionamentos e reflexões atravessam gerações. São universais.

 

E então, fica mais uma pergunta no ar:
Até quando essas pessoas, cegas pela própria vaidade criativa, continuarão a estragar tudo o que tocam?

Ao leitor

As histórias que nos marcam não são aquelas moldadas por modismos passageiros, mas as que nascem da alma, das experiências humanas genuínas e da coragem de dizer algo verdadeiro.
Talvez seja hora de voltarmos à simplicidade dos nossos avós — onde cada palavra tinha peso, cada pausa tinha intenção e cada narrativa deixava uma marca profunda.

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Acompanhe mais reflexões e contos em A Forja das Histórias

29 setembro 2025

A Escrita: A Voz que Ultrapassa o Tempo

 


“A escrita é provavelmente a maior invenção do mundo, pois permite que pessoas que nunca se conheceram compartilhem ideias através dos séculos.” — Carl Sagan

         Inspirado nas palavras de Carl Sagan

Em uma de suas reflexões mais memoráveis, Carl Sagan afirmou que a escrita é talvez a maior invenção da humanidade, pois por meio dela “os mortos falam aos vivos, e as gerações ainda não nascidas podem ouvir as vozes do passado”.
Essa ideia simples, mas profundamente poderosa, revela o verdadeiro impacto que as palavras têm: elas rompem as fronteiras do tempo.

Antes da escrita, tudo o que uma geração podia transmitir à seguinte dependia da memória e da tradição oral — frágeis, mutáveis, sujeitas ao esquecimento.
Mas com o surgimento da escrita, a humanidade conquistou algo extraordinário: a imortalidade da palavra.
Textos puderam atravessar séculos, continentes e culturas, levando conhecimento, emoção e sabedoria a lugares onde os autores jamais poderiam estar.

Carl Sagan via nisso um ato quase mágico.
Quando lemos um manuscrito antigo, estamos participando de um diálogo com alguém que viveu talvez há mil anos.
Suas ideias foram capturadas em símbolos sobre o papel, esperando pacientemente que olhos curiosos — os nossos — viessem lhes dar vida novamente.
Cada leitura é, portanto, um encontro entre mentes separadas pelo tempo, mas unidas pela linguagem.

No fundo, escrever é um gesto de fé.
É acreditar que, mesmo quando nossa voz silenciar, nossas palavras ainda ecoarão em corações e mentes que ainda virão.
É como lançar uma mensagem dentro de uma garrafa ao vasto oceano do tempo, confiando que, um dia, alguém a encontrará na margem do futuro.

Na Forja das Histórias, essa visão de Sagan encontra eco perfeito.
Cada conto, cada crônica e cada reflexão publicada aqui carrega em si o desejo de permanecer, de conversar com leitores que talvez eu nunca conheça pessoalmente.
Assim como os antigos escribas deixaram seus registros em tábuas de argila e pergaminhos, nós, escritores modernos, lançamos nossas palavras em páginas digitais — nossa nova forma de eternidade.

Sagan nos lembra que escrever é um privilégio e uma responsabilidade.
Ao registrar nossas ideias, sentimentos e visões de mundo, nos tornamos parte da grande corrente da humanidade.
Nos tornamos pontes entre o ontem e o amanhã.
E, acima de tudo, deixamos rastros luminosos para que outros possam seguir.

A escrita ultrapassa o tempo.
E talvez, por isso mesmo, valha tanto a pena escrevê-la com alma.